Imunidade contra a Covid-19 pode ser duradoura, sugere estudo publicado na Nature


Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (15) na revista científica “Nature” aponta que o sistema de defesa do corpo humano pode ser capaz de “lembrar” da infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) por um longo período de tempo.

A descoberta é importante porque ajuda a entender por quanto tempo uma pessoa que já teve a doença causada pelo vírus, a Covid-19, fica imune a ela. Isso ainda não foi entendido completamente pela ciência.

 

Os pesquisadores, de vários institutos de Singapura, analisaram amostras de 23 pessoas que se recuperaram da Sars (síndrome respiratória aguda grave), da pandemia de 2002 a 2003. Eles descobriram que um tipo de células de defesa, as células T, ainda é capaz de reagir à presença do vírus, mesmo 17 anos depois. Um estudo anterior já havia detectado a extensão dessa capacidade até 11 anos após a exposição.

 

“Esses achados demonstram que as células T específicas para vírus induzidas por infecção por betacoronanvírus são duradouras, apoiando a noção de que pacientes com COVID19 desenvolverão imunidade a longo prazo por células T”, explicam os pesquisadores no estudo.

 

As células T são um braço da resposta imune do corpo e trabalham eliminando as células infectadas, preferencialmente por um vírus. Elas montam uma resposta imune que é diferente da dos anticorpos (que funcionam melhor com bactérias), detalha Natália Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência.

 

As células T podem ter uma “memória”, que também pode ser de curto ou longo prazo. No caso dos coronavírus que causam resfriados, por exemplo, explica Pasternak, ela é curta. Ainda não se sabe por quanto tempo elas são capazes de “lembrar” do novo coronavírus, entretanto.

 

Entender mais sobre elas é importante porque já há pesquisas apontando que os anticorpos criados contra a Covid-19, outra parte do sistema de defesa do corpo, não duram muito tempo.

 

“A imunidade não é composta só por anticorpos, a gente responde também através da própria célula. Por isso eles foram investigar o papel das células T”, explica Natália Machado Tavares, pesquisadora de imunologia e patologia da Fiocruz Bahia.

O cientista Derek Lowe, que mantém um blog na revista científica “Science” – que, junto com a “Nature”, é uma das mais importantes do mundo –, comentou que a descoberta sobre as células T pode resolver ajudar a resolver a questão dos anticorpos.

 

“Leva a acreditar que a imunidade guiada pelas células T talvez seja a maneira de reconciliar o aparente paradoxo entre respostas de anticorpos que parecem estar diminuindo a cada semana em pacientes convalescentes e poucos (se houver) relatos confiáveis de reinfecção. Seria realmente uma boa notícia”, avaliou.

No estudo, os pesquisadores também perceberam que as células que “lembravam” da primeira Sars também reagiram a partes do novo coronavírus. Isso, afirmaram, traz a possibilidade de que quem teve um vírus parecido com o novo coronavírus tenha alguma proteção contra a Covid-19.

“Nossas descobertas também levantam a possibilidade intrigante de que células T de longa duração geradas após a infecção por vírus relacionados possam proteger ou modificar a patologia causada pela infecção por Sars-CoV-2”, disseram.

 

Eles também acharam células T que conseguiam “reconhecer” partes do novo coronavírus em alguns pacientes que nunca tinham tido nem a Covid-19 nem a primeira Sars, de 2003. Isso aponta para a possibilidade de que as pessoas tivessem entrado em contato com outros tipos de vírus que induziram as células a formarem uma defesa cruzada, que também serviu, em parte, para o novo coronavírus.

Tavares, da Fiocruz Bahia, ressalta que esta última reação não ocorre mesma forma que nos pacientes que tiveram a Covid-19, ou até mesmo a primeira Sars. “O padrão de resposta é bem diferente. Não é todo mundo que responde”, diz.

 

Na pesquisa, os cientistas também pontuam a necessidade de mais estudos.

“Compreender a distribuição, frequência e capacidade de proteção de células T preexistentes com reação cruzada ao Sars-CoV-2 preexistentes pode ser de grande importância para explicar algumas das diferenças nas taxas de infecção ou na patologia observada durante esta pandemia”, afirmaram os pesquisadores.

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