"Nadamos por quase 15h", conta sobrevivente de naufrágio no ES


     Pescadores de Itapemirim relatam o drama de ficar à deriva e ver companheiros morrerem em alto-mar. “Ficamos em cima de uma bobina de madeira até as 3 horas da tarde. Ficamos nadando por quase 15 horas”. A fala é de Marciélio de Souza Rocha, mestre da embarcação Kairós, que naufragou na madrugada desta quarta-feira (26).         Ele e dois pescadores chegaram a Itapemirim, no Sul do Estado, na manhã desta quinta-feira (27). A Marinha do Brasil ainda faz buscas pelos corpos de outros três pescadores que estavam no barco. 

   Os pescadores estavam a cerca de 80 quilômetros da costa, na altura da cidade de São João da Barra, no Estado do Rio de Janeiro. Foram mais de 15 horas de viagem até chegar a Itapemirim, às 6h30 desta quinta-feira. Após passar por exames, eles seguem em observação no Hospital Menino Jesus, no município. Eles contaram que, por volta da meia noite, a embarcação bateu em algo que perfurou o casco do barco. Em seguida acionaram via rádio outras embarcações pedindo por socorro. 
    O drama aumentou quando a ajuda não chegou, o barco virou e todos se apoiaram a uma bobina de madeira. “Graças a Deus saí nadando. Me segurei em um bojão de gás. Fui nadando e subi no barco. Mas uma onda me tirou. Abandonamos o barco e fomos nadando. Usei uma mochila para salvar meus documentos, tinha uns vidros. Foi o que ajudou a boiar. Pedia a Deus e oramos bastante”, revela o pescador Edmilson Veiga. Horas mais tarde, a fadiga abateu três dos tripulantes, os mais jovens. 

   Pablo Souza Amaral, de 22 anos, Wanderson Batista Gomes, 18 anos e Cleidson, de 19 anos. Segundo os sobreviventes, eles não resistiram ao frio e às condições extremas de cansaço. Para ele, manter a tranquilidade foi fundamental no momento mais difícil. “Os meninos começaram a se afobar e tomar aquela água salgada. Também estava muito frio. Só pensava em Deus enviar uma embarcação para nos tirar daquele sofrimento. Minhas pernas paralisaram e eu não tinha força. Já estava pensando em me entregar. 
   Os amigos disseram para eu lutar, não me entregar”, conta Veiga, emocionado ao lembrar dos jovens. O também sobrevivente Jaciélio de Souza, irmão do mestre da embarcação Kairós, conta sobre o alívio ao ver a embarcação Laizinha II, que os resgatou. 
    “A salvação foi essa embarcação. O helicóptero já estava indo embora. Quando vi o barco fui nadando até eles. Bati forte com os pés na água para verem o reflexo no sol. Um pescador no barco gritou. Quando ele acelerou o barco foi um alívio”, relembra.
  O RESGATE 
 Segundo a Marinha do Brasil, a embarcação “Laizinha II” resgatou os três sobreviventes. Nesta quarta-feira (26), uma operação de busca e salvamento foi montada, mobilizando o Navio-Patrulha “Macaé”, sediado no Rio de Janeiro, uma lancha com equipe de salvamento da AgSJBarra e um helicóptero da força aeronaval, além embarcações pesqueiras que encontravam-se na área. As buscas pelos três pescadores desaparecidos continuam, segundo a Marinha. Eles moravam na localidade do Gomes, interior de Itapemirim. As causas do acidente e as responsabilidades serão apuradas em Procedimento Administrativo instaurado pela Marinha do Brasil.
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